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Polícia Civil de Cotia investiga morte de paciente após tortura dentro de clínica de recuperação

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clinica de reabilitação cotia (1)
Paciente aparece amarrado

A Polícia Civil de Cotia continua com as investigações para esclarecer a morte de Jarmo Celestino De Santana, de 55 anos, que estava sob os cuidados da casa de recuperação para dependentes químicos Comunidade Terapêutica Efatá. O estabelecimento foi interditado pela Vigilância Sanitária de Cotia, que cancelou também a licença sanitária do local.

As investigações prosseguem no 1º DP de Cotia. “A autoridade policial realizou oitivas de testemunhas nesta quarta-feira (10) e aguarda os responsáveis do local para prestarem depoimento hoje (11)”, informou, em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), na tarde desta quinta-feira.

O último registro de Jarmo com vida foi feito por meio de um vídeo gravado por um monitor do estabelecimento, identificado como Matheus de Camargo Pinto, de 24 anos, segundo a polícia. Nas imagens registradas na última sexta-feira (5), dia em que Jarmo havia sido internado, ele aparece sem camisa e sentado em uma cadeira com as mãos amarradas para trás.

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Paciente aparece amarrada

Na segunda-feira (8), o homem foi levado com diversos hematomas a um posto de saúde em Vargem Grande Paulista, onde o óbito foi confirmado. A Polícia Civil de Cotia suspeita que, além de tortura, a vítima tenha sido dopada. Com a presença de muitos familiares, Jarmo foi enterrado ontem (10), em um cemitério de Jandira.

Em depoimento à polícia, documento que o “G1” teve acesso, o irmão da vítima diz que no dia seguinte à internação, foi à casa de recuperação levar alguns pertences, mas não teve contato com Jarmo e foi informado de que o interno estaria dormindo. Depois, a família recebeu uma ligação do Hospital de Vargem Grande Paulista informando sobre a morte do paciente.

Matheus foi detido em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva. Segundo a polícia, o monitor usou violência para submeter a vítima a “intenso sofrimento físico e mental”. No celular dele, que foi apreendido, os investigadores encontraram um áudio enviado para outra pessoa via WhatsApp no qual teria dito: “Cobri no cacete, cobri… Chegou aqui na unidade fi… Pagar de brabo… Cobri no pau. Tô com a mão toda inchada”.

A Polícia Civil de Cotia também investiga se outras pessoas estão envolvidas na morte de Jarmo. “Apuramos se mais alguém participou diretamente das agressões ou foi omisso ao não impedir que elas acontecessem”, disse o delegado Adair Marques Correa Junior, da Delegacia de Cotia.

O que dizem os responsáveis pela Comunidade Terapêutica Efatá e Matheus

A defesa dos proprietários da clínica – o enfermeiro Cleber Fabiano da Silva e Terezinha de Cássia de Souza Lopes da Conceição –, afirmou que seus clientes não sabiam das agressões, condenou a conduta de Matheus e negou que a instituição tenha qualquer relação com maus-tratos aos pacientes.

Segundo a TV Globo, a defesa apresentou à polícia documentos como Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e alvará de funcionamento com validade até dezembro de 2024, negando que o estabelecimento estaria funcionando de forma irregular.

comunidade terapeutica efata
Reprodução/TV Globo

Cleber contou que Matheus é um ex-dependente químico e atuava como monitor no local há menos de duas semanas. “Ele veio de uma outra clínica e estava recuperado, mas não conseguia ficar ‘limpo’ fora de uma clínica e pediu para ficar aqui para dar reuniões [aos internos]. Estava em fase de teste, não tinha criado vínculo empregatício porque estávamos avaliando a conduta dele”, afirmou em entrevista à TV Globo.

À polícia, Matheus disse que Jarmo foi agredido por agentes de uma empresa que o levaram à casa de recuperação e que os donos do estabelecimento, Cleber e Terezinha, ajudaram a contê-lo, ainda na sexta-feira. Segundo o monitor, Jarmo foi “arremeçado ao solo”.

Matheus contou também que entrou em luta corporal com Jarmo no sábado pela manhã, quando o interno acordou e tentou agredir outros pacientes. Depois, Jarmo teria quebrado objetos do quarto em que estava e foi contido, sofrendo novas agressões físicas e até um “mata-leão”, um golpe que consiste em dar uma chave de braço impedindo a respiração.

O que diz a Prefeitura de Cotia

A Prefeitura de Cotia afirmou, em nota, que uma equipe da Secretaria de Saúde foi à Comunidade Terapêutica Efatá logo que tomou conhecimento da ocorrência. Ainda na segunda-feira (9), as equipes avaliaram os internos para checar a necessidade de atendimentos.

Dos mais de vinte pacientes que estavam na casa, dois foram levados à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde foram descartadas suspeitas de maus-tratos, segundo a administração municipal.

Um dos pacientes encaminhados à UPA tem 52 anos e apresentou “sequelas cognitivas atribuídas ao antecedente de etilismo. Verificou-se nele a necessidade de correção e potássio e ele foi referenciado para o Hospital Regional de Cotia”. O segundo paciente, 64, diagnosticado com Alzheimer, apresentou “quadro hipertensivo que foi corrigido na unidade de saúde”.

Ainda de acordo com a Prefeitura, outra equipe ficou responsável por entrar em contato com parentes dos internos para que eles fossem retirados da clínica. “Alguns já foram retirados do local por familiares”, informou a administração de Cotia.

A Prefeitura informou que, em meados do ano passado, uma equipe técnica observou que o local, até então sem residentes, atendia às condições sanitárias de funcionamento. Já durante a inspeção feita nesta semana, constatou-se “que o estabelecimento apresentava condições inadequadas de manutenção, higiene e salubridade”.