Moradores de um condomínio, que fica em Barueri, prestaram homenagens, na terça-feira (9), ao porteiro Weliton Vasconcelos, de 42 anos, que foi destratado após orientar um dos condôminos sobre a utilização de máscara para evitar a disseminação do novo coronavírus.
“Queremos, em nome de todas as torres [do condomínio], te pedir desculpa e dizer que o que aconteceu não nos representa. Você merece todo o nosso respeito e toda a nossa consideração. Com esse ato simples, queremos dizer que não participamos de atitudes como esta. Receba os aplausos de todos os vizinhos”, disse uma moradora, que foi porta-voz da homenagem.
Para evitar aglomerações, todos os moradores participaram da homenagem das sacadas e janelas de seus apartamentos. O porteiro foi aplaudido e recebeu diversos presentes, além de cartas escritas pelos moradores, que fizeram até uma vaquinha para Weliton.

“A homenagem foi um pedido de desculpas obrigatória de todos nós. Uma forma de dizer que os demais moradores não compactuam com a agressão que ele recebeu. Foi um episódio absurdo e desumano. Ninguém pode tratar qualquer pessoa da forma como ele tratou o Weliton, por causa da posição social ou hierarquia. Ele é um funcionário exemplar e gentil, referência para os outros empregados”, disse a moradora, responsável por organizar a homenagem, Horlanda Mota Gobbo ao G1.
“Quero saber quem te deu o direito de me questionar? Você é o porteiro. Você não tem o direito de falar”, diz o agressor
O episódio aconteceu no dia 5 de maio. Weliton gravou os insultos de um morador contra ele e enviou à administração do condomínio. No áudio, o condômino humilha o funcionário e usa palavrões após ser advertido sobre a norma que orienta o uso da máscara de proteção.
“Se eu quiser sair sem máscara, eu saio sem máscara. Você não tem nada a ver com a minha vida. Você tem só que abrir o portão pra mim. Eu vou onde eu quiser sem máscara. Quero saber quem te deu o direito de me questionar? Você é o porteiro. Você não tem o direito de falar. Uma vez que eu já dirigi a palavra a você? Eu não tenho amizade com você. Você é apenas um funcionário”, disse o condômino ao porteiro.
Após o ocorrido, Weliton contou que pensou em deixar o emprego. Ele trabalha no condomínio há dois anos, mas nunca passou por uma situação parecida. “Dói demais você ser humilhado. Principalmente quando a gente está só tentando cumprir uma ordem que nos foi dada. Foi a primeira vez que isso aconteceu comigo lá e a gente fica assustado, porque nenhum ser humano pode falar assim com o outro por causa da posição financeira ou os bens que ele tem”, disse o funcionário ao G1.
Multa por agressão verbal
A administradora responsável pelo condomínio lamentou o ocorrido e afirmou ter colocado os advogados da empresa à disposição do porteiro, caso ele quisesse processar o morador.
O condômino foi multado por agressão verbal, de acordo com o regulamento do edifício, e terá de pagar cerca de R$ 1 mil.
“É um episódio lamentável e a gente pede desculpas ao Weliton por isso. Assim que soubemos do ocorrido, oferecemos a ele a possibilidade de transferência para outra condomínio em Osasco, mas ele não aceitou. Colocamos a nossa equipe jurídica à disposição e agradecemos muito a homenagem que os demais moradores fizeram para ele”, disse Rafael Bernardes, diretor da empresa, ao G1.
Weliton disse que vai continuar trabalhando no condomínio como forma de retribuir o carinho que recebeu das 370 famílias que se retrataram com ele. O funcionário disse ainda que não guarda mágoa do agressor.
“O respeito tem que ser múltiplo, com todo mundo, independente da profissão que a pessoa tem. Isso eu procuro ensinar em casa para os meus três filhos. Eu agradeço muito pelo carinho que os outros moradores me trataram e por causa deles eu vou continuar trabalhando lá”, disse o porteiro.