
O caso do espião russo Sergey Cherkasov, que foi condenado por falsidade ideológica no Brasil há quase um ano, continua intrigando as autoridades. Um relatório publicado recentemente pelo FBI, polícia federal dos Estados Unidos, descreve como o espião agia em território brasileiro e revela que ele usava uma área de mata, em Cotia, como um tipo de “esconderijo” de informações e arquivos.
Na prática de espionagem, os espiões e seus superiores utilizam várias técnicas para ocultar materiais. Uma delas é chamada de “dead drop” [em tradução livre: entrega ‘morta’], que consiste em deixar pacotes com itens, tais como pen drive ou outro dispositivo, escondidos em algum lugar com pouco movimento.

Foi o que aconteceu em Cotia, segundo o FBI. Quando Cherkasov foi preso em São Paulo, em abril do ano passado, a polícia apreendeu um celular que estava com ele. No aparelho, os investigadores descobriram que o espião tinha um ponto de “dead drop” em Cotia.
No endereço descoberto, foi localizado um material que reunia informações sobre o trabalho e a vida do espião russo. O documento foi compartilhado pelas autoridades do Brasil com a polícia federal dos EUA.
Entre idas e vindas, espião russo viveu cerca de 10 anos no Brasil
Cherkasov veio ao Brasil pela primeira vez em junho de 2010. Em setembro do mesmo ano, obteve os documentos falsos se passando por Viktor Muller Ferreira, e conseguiu a cidadania no país. Ele falsificou certidão de nascimento [na qual o nome da mãe era de uma brasileira já falecida], identidade, carteira de motorista e passaporte.
Como cidadão brasileiro, conseguiu fazer intercâmbio nos EUA em 2017 e fez mestrado na Universidade John Hopkins, em Washington. Em 2022, também usando passaporte brasileiro, viajou para Haia, na Holanda, para estagiar no Tribunal Penal Internacional. Lá, foi preso e deportado ao Brasil em abril. Já em São Paulo, Cherkasov foi preso por falsidade ideológica e acabou condenado a 15 anos de prisão.
Em setembro do ano passado, o governo da Rússia solicitou a extradição do espião e alegou que ele seria procurado no país por tráfico de drogas. No dia 17 de março deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a extradição para a Rússia, mas somente após o fim das investigações no Brasil. Na semana seguinte, diante do relatório divulgado pelo FBI, o espião foi denunciado nos EUA.