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Margem de erro

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Colunistas Visão - Marcos Agostinho
Coluna de Marcos Agostinho no Visão Oeste

Na estreia dessa coluna, começo com minha apresentação. Ato importante para um início de conversa que espero dure bastante tempo. Tenho origem em uma família vinda de São João da Chapada – um Distrito de Diamantina lá nas Minas Gerais, que chega em Carapicuiba (SP) em 1945.

Meu avô paterno, João Ovidio e Don’Anna minha avó, tinham por tradição colocar os nomes de seus filhos de acordo com o Santo correspondente ao dia apontado pela “folhinha”, o calendário do ano. As pessoas jovens recomendo perguntar a outras mais velhas ou consultar o chat gpt para entender o que estou falando sobre escolha de nomes.

A meu pai, posto que nasceu aos 28 dias do mês de Agosto, dia de Santo Agostinho, foi assim batizado. Minha mãe, Neide Alves da Silva, grandiosa mulher, não conseguiu convencer meu velho turrão para que constasse em meu registro o nome de DOUGLAS, ele preferiu ouvir Valentina, sua irmã mais velha que sugeriu MARCOS e “aproveitou”, emendou e colocou também Agostinho. Assim simples.

Décadas depois, quando meu filho nasceu, fui eu quem perdeu a batalha. Queria que ele se chamasse ARTHUR, porém minha esposa preferiu que ele tivesse meu nome e assim ficou MARCOS AGOSTINHO DA SILVA FILHO. Minha filha, não leva AGOSTINHO no seu nome, mas, é nascida no mês de agosto, mas brinca com isso pois tem uma camiseta escolar também um AGOSTINHO, que é nome do colégio onde estuda.

Em um ciclo de 35 anos de atividade profissional no campo da ciência política e da sociologia, há 25 anos dirijo o Instituto MAS, empresa de pesquisa de mercado e opinião pública, espaço em que me especializei em pesquisa de satisfação de clientes e prospecção de novos negócios, e também na avaliação de administração pública e suas políticas. Contudo, onde mais me sobressaio e as emoções encontram abrigo é quando atuo com a vilã de todas as pesquisas: as pesquisas eleitorais!

Portanto, quando digo que tenho um nome a zelar, não é apenas uma expressão de linguagem, é literalmente isso. Contar parte dessa trajetória no livro GARIMPEIRO DO FUTURO foi um dos desafios mais doloridos e deliciosos que enfrentei, concretizei, ao mesmo tempo que dinamitava um sentimento que por vezes se achegada na trajetória de uma carreira de sucesso: chamada a síndrome de impostor ou algo que o valha.

Será mesmo que em um quarto de século meu trabalho havia sido tão importante assim? Será que uma frase dita com veemência, com a força da voz dos dados e uma análise cuidadosa, teria de fato mudado os rumos políticos e o destino de alguma liderança política? Será de fato que guarda alguma relevância: sempre acertar todo e qualquer resultado eleitoral?

Desde o início da década de 1990 vejo circular pela região vários e vários institutos de pesquisa. Dos mais famosos aos nem tanto, vocês conhecem alguns deles. Surgem e simplesmente desaparecem. Outros mudam de nome com os mesmos gestores, outros apenas de CNPJ. E em meio a isso, em reuniões diversas, em vários momentos já cheguei a ouvir “Mas…o resultado do Instituto ‘X ’ deu diferente do seu! A sua pesquisa tá errada!

Certa vez, no ano de 2004 nas eleições municipais de Itapevi 4 institutos realizaram pesquisas simultaneamente. Dos quatro apenas o Instituto MAS acertou! Essa é uma das histórias que está no livro já citado, o material serviu inclusive para auxiliar meus advogados a fazerem a defesa dos pedidos de impugnação de pesquisa registrados nas últimas eleições de 2024. Isso porque apesar de dizerem que “cada eleição é uma eleição”, algo que não muda é o grande momento do questionamento dos resultados, e da idoneidade dos institutos de pesquisa e seus proprietários ou proprietárias.

No livro GARIMPEIRO DO FUTURO quando coloquei como subtítulo A HISTÓRIA DE UM EMPRESÁRIO NEGRO DO RAMO DE PESQUISAS, surgiram observações questionamentos tais como é necessário mesmo frisar o aspecto da negritude? Você não está sendo ‘racista consigo mesmo?!’. Essas e tantas outras “observações” que só partem de cabeças pensantes que ignoram, conscientemente ou não, a presença do racismo na sociedade brasileira e um dos efeitos é fazer com que empresários negros enfrentem dificuldades adicionais, além das já previstas e corriqueiras da gestão de uma empresa.

Falando em pesquisas, em dados, em números, em observações, sim, há uma margem de erro cientificamente aceitável e estabelecida em todas as pesquisas eleitorais, que variam em sua maioria entre 2 a 5 pp, porém para aqueles e aquelas que possuem a tez mais escura foi cravado que para prosperar se deve ter um desempenho de 2 a três vezes maior do que a quem não teve o mesmo destino de Can, na versão cristã de explicar o mundo. Sigo eu e o Instituto MAS com margem de erro ZERO, há 25 anos mantendo um “coeficiente de confiabilidade” de 95,5%. sem cair na esparrela de “ter-que-ter-um-desempenho-maior-para”. Felizmente nasci em uma família que gosta de seu nome e zela por ele, garimpando futuros.

Autor

  • Marcos Agostinho nasceu em Carapicuíba em 1966, cidade que seus avós escolheram para morar em 1945, vindos de Diamantina-MG. Cientista político e sociólogo com 35 anos de experiência, há 25 anos dirige o Instituto MAS, especializado em pesquisa de mercado, satisfação de clientes, avaliação de políticas públicas e, especialmente, pesquisas eleitorais. Autor do livro "Garimpeiro do Futuro", compartilha sua trajetória e reflexões sobre o setor de pesquisas no Brasil, incluindo os desafios enfrentados como empresário negro. Zela pelo nome, herança familiar e marca de sua credibilidade profissional.

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