Alex da Força*
As manifestações iniciadas na cidade de São Paulo e que a cada dia recebem o apoio da população que depende do transporte público para se deslocar pelas cidades, colocam na ordem do dia um debate necessário: “Que tipo de transporte público queremos?”.
O alto custo das passagens, a baixa qualidade dos serviços prestados, a falta de integração eficaz entre os modelos de transportes e uma política positiva de mobilidade urbana trazem prejuízos financeiros e de qualidade de vida aos habitantes da região metropolitana de São Paulo.
Na cidade de Cotia, os aumentos das passagens dos transportes públicos encareceram também o custo da educação para quem utiliza esses meios para ir e voltar das unidades educacionais formais e profissionalizantes e vêm incentivando o uso dos transportes por carro, moto, etc, saturando ainda mais as vias de rodagens locais e a Rodovia Raposo Tavares.
Os estudantes da nossa cidade, pelas redes sociais, iniciaram protestos virtuais contra o cancelamento do uso da carteirinha no fim de semana, o que afeta os que estudam nesses dias, entre outras reivindicações comuns à população que utilizam os ônibus, tais como: a melhoria na qualidade e na quantidade do transporte público.
Reclamamos também pela falta de integração de linhas no Terminal Metropolitano de Ônibus de Cotia, etc.
Ônibus e vans antigas, linhas subdimensionadas e trajetos com custos desproporcionais são assuntos que as autoridades local e estadual deveriam buscar soluções. Uma pessoa que se desloca do Distrito de Caucaia do Alto, do Jardim Japão ou do Bairro Aguassaí para o centro de Cotia paga mais de tarifa de ônibus do que uma pessoa que se desloca do centro de Cotia para as cidades vizinhas.
O alto custo das tarifas interfere diretamente na renda familiar da população de Cotia. Um trabalhador que recebe um salário mínimo gasta cerca de 30% deste em transporte público, sobrando apenas 70% para custear as demais necessidades, tais como: alimentação, vestuário, educação, habitação, etc.
Pelo que é pago, os ônibus e vans de Cotia deveriam ter ao menos ar-condicionado, linhas operando em todos os bairros e mais segurança aos usuários, motoristas e cobradores. Em muitas cidades pelo mundo, a composição dos custos dos serviços dos transportes públicos, que elevam os preços das tarifas, é custeada pelos impostos arrecadados.
No Brasil, o “Tsunami” de impostos arrecadados pelos governos que mês após mês batem recordes não são destinados suficientemente para a melhoria da mobilidade urbana e da qualidade de vida da população brasileira… Os recursos chegam como uma “marolinha” e logo desaparecem.
Sinceramente, por muitas vezes, enquanto aguardava o ônibus por mais de uma hora, na região central de Cotia e nos fins de semana, me perguntava se a operadora do transporte público em ônibus da cidade, que há décadas monopoliza esse serviço, tem mais força que o Prefeito, pois pouco foi feito para mudar essa realidade vivenciada por milhares de Cotianos.
O que a massa de trabalhadores, estudantes e usuários do sistema de transportes públicos estão mostrando, através dos protestos que deveriam ser pacíficos, é o descontentamento geral da população com os serviços que lhes são prestados.
Por fim, o direito ao protesto é legítimo em um regime democrático de direito, assim como é legítima esta discussão sobre mobilidade urbana. O que não é legítimo é o exercício de práticas criminais e a criminalização dos movimentos sociais, populares e do livre pensar.
Alex da Força é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região.