
Já foi o tempo em que o Dia Internacional da Mulher, o 8 de março, era uma data para enaltecer a beleza, a sensibilidade ou qualquer outro aspecto considerado “sinônimo” de feminilidade. Com alguma confusão sobre qual episódio de fato marcou o surgimento desse dia, é consenso que ele nasceu da memória da luta das mulheres. Luta pela igualdade de direitos numa sociedade em que só o fato de “ser mulher” bastava para ser considerada uma pessoa inferior, sem direito ao voto, sem direito ao trabalho, sem direito a voz.
Ao longo das últimas décadas, nós, mulheres, temos conseguido avanços importantes na busca pela igualdade. Mas ainda não há espaço para comemorar. Até o cinema vem dando sua contribuição, trocando a maioria esmagadora das singelas princesas por personagens fortes, que buscam seu espaço, e que não estão interessadas em se casar e viver felizes para sempre ao lado de um príncipe encantado.
No Brasil, a criação da Lei Maria da Penha consolidou um avanço relevante no combate à violência contra a mulher. Assim como a lei do feminicídio, que passou a ser considerado crime hediondo.
Numa sociedade que age como se bater em mulher fosse o comum, onde o assédio moral ainda apavora e persegue muitas mulheres tratadas como propriedade por seus companheiros – nada encantados –, demarcar a gravidade desses crimes é fundamental.
De fato, ainda há muito a avançar. Neste sentido, quando formamos nossa chapa para disputar as eleições à direção da OAB/Osasco, no ano passado, foi motivo de grande alegria encontrar nossas ideias e propostas de trabalho refletidas no conteúdo programático da chapa que apoiamos para a OAB/SP – e que sagrou-se também vencedora – liderada pelo Dr. Caio Augusto. A paridade da participação feminina na gestão e a valorização do trabalho das advogadas permeou todo o discurso da chapa (e até agora a prática da nova diretoria), a ponto de ganhar destaque e reconhecimento em reportagens e conteúdos jornalísticos independentes ao longo do processo eleitoral.
Se o percentual de mulheres corresponde a 51% dos 209 milhões de indivíduos que compõem a população brasileira, porque haveria de ser diferente a distribuição da proporção de mulheres em postos de comando nas empresas, nas fileiras das universidades, no poder público ou na função de representantes políticas? Num momento em que todos os indicadores do país demonstram que essa diferença continua a existir, mesmo que seja menor do que já foi no passado, consideramos essencial criar ferramentas que permitam não apenas estimular a participação feminina, mas principalmente garantir que de alguma forma se acelere o preenchimento da lacuna entre a realidade e o ideal.
O dia-a-dia e a prática da cidadania mostram o quanto é importante que permaneçamos vigilantes e atentas na garantia dos nossos direitos. Na semana que precedeu o Carnaval, vários veículos de imprensa divulgaram uma articulação existente no Congresso Nacional para acabar com a cota mínima de candidaturas femininas nas eleições brasileiras. O entendimento daqueles senhores representantes do povo, em sua maioria homens, é o de que, já que os partidos não conseguem cumprir a cota mínima, e ao invés disso, se prestam a produzir candidaturas falsas ou de laranjas, o melhor a fazer é acabar com o mecanismo e assumir que apenas homens devem participar da política.
É fato que o mecanismo de cota não é perfeito e está longe do ideal. É igualmente triste que uma sociedade precise desse tipo de recurso para garantir o mínimo de equidade. Mas é ainda mais preocupante que, sob sua existência, os partidos prefiram se arriscar na ilegalidade e cheguem ao ponto de defender abertamente sua supressão para normalizar a burla.
Enquanto persistir essa lógica, na política ou em qualquer outra atividade humana, haveremos de homenagear as mulheres, sim, por sua luta, seus exemplos de perseverança, sua obstinação, muito mais do que apenas comemorar seu dia e enaltecer sua sensibilidade.