A divulgação feita pelo jornal Folha de São Paulo de um habeas corpus que supostamente tentava evitar o que seria a certeza uma prisão eminente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mais um incentivo a discutir-se com maturidade a democratização do acesso aos meios e a responsabilidade do jornalismo e da atividade midiática.
O factoide foi explorado de forma bombástica pelo jornal – e , para se fazer justiça, replicado e reproduzido quase ipsis literis por inúmeros outros grandes veículos de comunicação. Acabou gerando um bem mais modesto “erramos” do veículo: não foi ninguém ligado ao PT ou ao ex-presidente quem impetrou a peça, que aliás pode ser solicitada por qualquer cidadão, para qualquer outro. Mas o estrago já estava feito.
Factoide explorado de forma bombástica recebeu um modesto “erramos”
Que o jornalista, como qualquer profissional, e o veículo, como qualquer empresa, podem cometer erros, isso não se discute. E aqui, ocorreu o básico: falta de apuração, falta de ouvir as fontes. Mas seria difícil verdadeiramente apurar, agora, até onde a culpa foi da urgência do “furo”, para o profissional, ou a pressão corporativa do veículo agindo para conspirar pelo erro.
De qualquer forma, o problema central continua sendo a reparação. Modesta, sem o mesmo destaque, quase nenhum alarde. Faz lembrar o ocorrido há bem pouco tempo, na última eleição, quando uma revista semanal tentou, flagrantemente, subverter a democracia com uma informação fabricada. Gerou um direito de resposta tardio, quando já não poderia nem de perto restabelecer a justiça no pleito.
Ao longo da nossa história pós ditadura, há muitos exemplos de vidas, carreiras e instituições destruídas assim. Às vezes por erros involuntários, noutras, por ações deliberadas. O problema central que persiste é que, quase sempre, no segundo caso, o critério de responsabilização e correção é o mesmo usado para o primeiro caso.