Desde muito jovem, aprendi que o ser humano não vive apenas de suas necessidades básicas, como alimento e moradia. Como está escrito na bíblia ‘’Nem só de pão viverá o homem’’. Esta verdade ecoa profundamente em mim, pois acredito que o lazer é uma necessidade essencial da alma.
A Constituição Federal assegura o lazer como um direito social. Contudo, na prática, ele ainda é negligenciado por muitas políticas públicas. O lazer é frequentemente visto como algo supérfluo, quando, na verdade, trata-se de um instrumento poderoso para a saúde mental, inclusão social e qualidade de vida.
Enquanto advogada e pessoa com deficiência, compreendo de maneira muito pessoal os desafios enfrentados para o exercício pleno desse direito. Espaços culturais inacessíveis, ausência de transporte adaptado nos fins de semana e barreiras atitudinais ainda afastam muitos brasileiros, principalmente os com deficiência, do lazer digno.
Não falo apenas por mim, mas também por tantas pessoas que encontrei em minha caminhada — jovens, idosos, trabalhadores, mães — que expressam o desejo de participar da vida cultural, de descansar com dignidade, de sorrir sem culpa. O lazer não é luxo, é parte da dignidade humana.
É preciso reafirmar, com coragem e sensibilidade, que trabalho e lazer não são opostos. São complementares. O trabalho edifica, o lazer humaniza. E a acessibilidade, nesse contexto, é a ponte entre o direito e a realidade.
Desejo uma sociedade que compreenda o lazer como parte do bem viver. Que nossos parques, cinemas, bibliotecas, clubes e centros culturais estejam abertos e acessíveis a todos, independentemente de sua condição física, social ou econômica.
Finalizo este texto com a esperança de que continuemos a lutar por uma sociedade mais justa, onde o lazer, como o pão, seja direito de todos — e não privilégio de poucos.