O principal mote da campanha do impeachment de Dilma Rousseff foi o “Não vou pagar o pato”. Com a liderança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o marketing se baseou na ideia de que aumentar impostos não é saída para a crise. O presidente interino Michel Temer, portanto, deve ter sérios problemas para emplacar o aumento de receitas que pretende fazer em 2017.
Foi divulgado nesta quinta-feira, 14, que o governo estuda a criação ou aumento de tributos para arrecadar R$ 8 bilhões ano que vem. A CPMF, por enquanto, está descartada, por ser extremamente impopular. Além disso, ficaria muito evidente a mudança de discurso, já que quando Dilma propôs a volta da contribuição, a gritaria da oposição e setores empresariais foi grande.
Quando o impeachment for confirmado pelo Senado, e tudo indica que será, devem ser tomadas as medidas impopulares, como o próprio Temer já admitiu em reunião com empresários. Com amplo apoio no Congresso e um novo presidente da Câmara alinhado com sua pauta, Temer deve aprovar a PEC do teto de gastos, que engessa os investimentos do país por 20 anos, reforma previdenciária, terceirização e, caso não haja ampla mobilização da sociedade, aumento da jornada de trabalho.
A economia deve, realmente, sair do fundo do poço, devido à retomada de confiança. Mas, para a classe trabalhadora, as medidas que virão certamente irão no sentido de perda de direitos historicamente conquistados.
A eleição para presidência da Câmara na noite de quarta-feira mostrou a profunda crise pela qual passa a esquerda brasileira. Enquanto os setores progressistas se dividem, os partidos neoliberais surfam na onda conservadora da sociedade.