Depois do Outubro Rosa, novembro chegou bicolor. A novidade veio na cor azul, para alertar o público masculino sobre a importância da prevenção ao câncer de próstata. Mas vem também a tradicional cor negra, para nos fazer refletir sobre a importância das políticas afirmativas e compensatórias – inclusive as cotas – como forma de tentar restabelecer, minimamente e de forma temporária, um equilíbrio destruído ao longo de anos de história de racismo e discriminação.
Neste campo, defensores das cotas e os contrários revestem-se dos seus argumentos, alguns mais válidos que outros. E para desembridar a discussão vem a realidade dura: o trabalhador negro ainda recebe 36,1% a menos do que o não negro. É o que mostra a pesquisa “Os negros nos mercados de trabalho metropolitanos”, apresentada nesta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O levantamento, realizado nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza e Brasília, mostra que, ao contrário do que o senso comum poderia supor, a diferença salarial não é inversamente proporcional ao nível de formação. Quanto maior sua escolaridade, menor fica o salário do trabalhador negro em relação aos não negros. Assim, negros com ensino fundamental incompleto ganham, em média, R$ 5,27 por hora, contra R$ 6,46 dos demais. Entre os pesquisados com ensino superior completo, os negros recebem R$ 17,39 por hora, contra R$ 29,03 dos não negros.
A disparidade continua na disposição hierárquica. Trabalhadores não negros têm quase 6 vezes mais acesso a cargos de chefia do que os negros. São dados aterradores que mostram o quanto ainda é preciso avançar na formulação de políticas de compensação.