Neste ano, o super-herói osasquense que ganhou poderes após ter sido mordido por um grilo radioativo completa 20 anos de história. O personagem criado por Cadu Simões teve sua primeira tira publicada na internet em junho de 2000 e conquistou o carinho de muitos osasquenses já que uma das missões do Homem-Grilo é proteger a ‘Osasco City’.
Um ano depois da criação do personagem, nasceu a primeira tira impressa, publicada em uma fanzine, relíquia para os admiradores de histórias em quadrinhos. O Homem-Grilo foi criado por Cadu Simões sem pretensão alguma e cheio de contradições. Quando o artista decidiu escrever as histórias, já não tinha tanto afeto pelas HQs de super-heróis quanto na infância, mas essa questão não tirou a vontade de produzir.
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“Comemorar 20 anos de publicação de uma história em quadrinhos feita de forma autônoma e independente é uma grande vitória. Trabalhar com arte e cultura em geral já não é algo fácil no Brasil e com histórias em quadrinhos é mais difícil ainda. De forma independe, então…”, contou Cadu Simões, em entrevista ao Visão Oeste.
Com o passar dos anos, o personagem foi ganhando características únicas. “O Homem-Grilo não é um herói que se posta como salvador da pátria, acima da sociedade. Ele não luta apenas para proteger os fracos e oprimidos, mas para ajudar a fortalecê-los e empoderá-los diante de todas as opressões. Seja de classe, de raça, de gênero, e assim por diante”, explica Cadu.
De 2015 até 2019, o artista decidiu se dedicar em outras séries de histórias em quadrinhos que também foram criadas por ele, como Nova Hélade, Cosmogonias e Acelera SP, e deu uma pequena pausa na produção de conteúdo do Homem-Grilo. Nesse período, o personagem ganhou um parceiro nas aventuras, o Sideralman, que é um super-herói criado por Will, o desenhista oficial do Homem-Grilo. Essa parceria marcou uma nova fase das histórias em quadrinhos do super-herói osasquense.
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“Nessa nova fase as histórias serão publicadas apenas de forma digital, no site dos personagens, em formato de pergaminho, que permite uma leitura melhor em celulares. E o financiamento dessa publicação será feito por financiamento coletivo na plataforma Catarse, mas as histórias serão gratuitas para todos, e publicadas sob uma licença livre Creative Commons”, afirma Cadu.
O Homem-Grilo
Carlos Parducci era um jovem como outro qualquer até ser mordido por um grilo radioativo (se é que os grilos mordem) e receber habilidades proporcionais à desse inseto, além do sensacional sentido de grilo (que ele não sabe pra que serve, mas tudo bem). Carlos então resolveu fazer bom uso de seus novos poderes e, assumindo o nome de Homem-Grilo, começou a combater o crime e a proteger os fracos e indefesos em Osasco City.
Mas para ele, mais do que uma grande responsabilidade, ser o Homem-Grilo é uma grande diversão, principalmente quando se tem a oportunidade de chutar a bunda de vilões megalomaníacos que querem dominar o mundo (e está cheio deles por aí!).
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Carlos mora em um pequeno apartamento alugado, que divide com seu amigo Vina, e está cursando Ciência da Computação, mas não é um aluno muito aplicado e muito menos um frequentador assíduo das aulas, principalmente quando ele tem que resolver algum problema como Homem-Grilo.
Em pouco tempo atuando como super-herói, ele já fez uma grande coleção de inimigos, e possui uma galeria de vilões mais esquisitos que os do Batman e do Homem-Aranha juntos. Mas isso não é problema, pois o Homem-Grilo não teme nada nem a ninguém. Bem! Na verdade só existe uma coisa que ele tem medo: baratas.
Famoso barzinho na avenida dos Autonomistas
Muitas pessoas conheceram o personagem pelas ilustrações no famoso barzinho na avenida dos Autonomistas. Até hoje o Homem-Grilo está estampado nas paredes do estabelecimento. “Moro na Cidade das Flores e sempre que passo em frente ao barzinho que tem grafitado o Homem- Grilo, fico intrigada com essa história em quadrinhos. Finalmente acessei o site e matei a minha curiosidade”, comentou um internauta.
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“Aquele grafite no boteco foi uma ideia muito boa… Muita gente que passa lá sempre olha, assim como eu”, disse outro. “Parece que não sou o único que era super intrigado pelo famoso grafite do barzinho na Autonomista”, comentou outro.
São muitos os comentários a respeito do “intrigante” grafite de um super-herói verde. “Muito bom saber que existe um super-herói perto sempre que precisar”, disse um osasquense, encantado com o trabalho de Cadu. “Até que enfim conheci o Homem-Grilo! Ainda vou tomar um ‘goró’ no bar, vou sim! Ideia muito boa”, disse outro.
O que muitos não sabem é que o grafite não é uma singela coincidência. O bar com as paredes ilustradas pertence ao pai de Cadu, o senhor Mário Simões e é mais antigo do que o próprio município de Osasco. “O bar foi fundado pelos meus avós, e em dezembro irá fazer 65 anos. Já a iniciativa de fazer os grafites do Homem-Grilo na fachada foi do meu pai, que é um grande fã do personagem, acho que é o maior fã”.
Personagem pode ser usado gratuitamente por outros artistas
O Criative Commons é um tipo de licença livre, que permite o compartilhamento e a criação de obras derivadas, inclusive para uso comercial, desde que os autores tenham conhecimento e possam até mesmo fazer sugestões.
“Algo que me alegrou nesses 20 anos de publicação do Homem-Grilo foi ver ele sendo usado por outros criadores para os mais variados tipos de obra. Foram ilustrações, HQs, animações, graffitis, artesanatos. Só não rolou games e filmes, mas não foi por falta de propostas”, afirma Cadu Simões, criador do personagem.
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Não é necessário pedir permissão antecipada ou pagar qualquer tipo de taxa de licenciamento dos autores, mas ainda assim, as obras são protegidas por direitos autorais.
Pandemia e o futuro dos super-heróis
A pandemia de covid-19 também trouxe diversos impactos ao criador do Homem-Grilo, que não pensa em retratar o tema em suas HQs. Cadu afirma que a pandemia atrapalhou indiretamente a sua produção, pois ele tem artrite reumatoide, uma doença autoimune, que o coloca no grupo de risco da covid-19.
O artista está em isolamento desde fevereiro, quando houve a constatação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, e, segundo ele, manter a sanidade mental para produzir em meio à pandemia tem sido um grande desafio. Além disso, sofre com cansaço e fadiga constante que a artrite reumatoide provoca, o que o impede de trabalhar, estudar, fazer as tarefas domésticas, entre outras atividades.
“Eu comecei a sentir dores reumáticas em 2013 e comecei a fazer tratamento em 2014. A doença ficou estável, mas esse ano voltei a ter muitas crises, e por conta do isolamento, não estou conseguindo fazer o acompanhamento como deveria”, explica.
Acometido pela doença e impedido de sair livremente para distribuir seus quadrinhos impressos nas livrarias ou vendê-los em eventos, Cadu diz que vai focar na produção de quadrinhos digitais que continuarão sendo publicados na internet, no formato pergaminho, que é melhor adaptado pra leitura em celular, pois basta deslizar o dedo pela tela para ler a história.
“Por enquanto apenas o Homem-Grilo e Nova Hélade possuem site. Mas pretendo também criar uma site pras Cosmogonias e Acelera SP. E depois disso, vou criar uma campanha única de financiamento coletivo recorrente pra todas as séries, mas serão todas publicadas gratuitamente”, finaliza.
Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho de Cadu Simões, basta acessar o site do Homem Grilo.
Confira na íntegra a entrevista com o criador do Homem-Grilo, o super-herói de Osasco:
O que o 20° aniversário simboliza/representa pra você, que criou o Homem-Grilo sem pretensão alguma, e que vem alcançando tantas pessoas até hoje?
Comemorar 20 anos de publicação de uma história em quadrinhos feita de forma autônoma e independente pra mim é uma grande vitória. Pois trabalhar com arte e cultura em geral já não é algo fácil no Brasil, com histórias em quadrinhos é mais difícil ainda. De forma independe, então…
“O Retorno do Robô-Retrô” foi a única publicação de quadrinhos desde 2015. O que houve nesse período? A capa dela diz ainda que é a primeira aventura na nova fase. O que seria essa nova fase?
De 2015 até 2019 eu me dediquei mais as minhas outras série de histórias em quadrinhos, como Nova Hélade, Cosmogonias e Acelera SP, e acabei deixando o Homem-Grilo um pouco de lado.
Em 2015, o universo ficcional do Homem-Grilo foi unificado com o do Sideralman, que é um super-herói criado pelo Will, que hoje é o desenhista oficial do Homem-Grilo.
Essa seria a nova fase. Mas por conta de um monte de contratempos, ela ainda não começou a ser publicada. Nessa nova fase as histórias serão publicanas apenas de forma digital, no site dos personagens, em formato de pergaminho, que permite uma leitura melhor em celulares. E o financiamento dessa publicação será feito por Financiamento Coletivo Recorrente no Catarse. Mas as histórias serão gratuitas para todos, e publicadas sob uma licença livre Creative Commons.
Legal é que as histórias continuarão sendo gratuitas, que é algo que você defende desde sempre…
Sim, mesmo quando eu ainda fazia os quadrinhos impressos, que eram vendidos em livrarias especializadas e eventos de quadrinhos, ainda assim sempre mantive as histórias em quadrinhos na Internet. E na internet sempre foi gratuito.
Muitas pessoas, inclusive eu, conheceram o seu personagem pelas ilustrações no “famoso barzinho na Avenida dos Autonomistas”. Até hoje o Homem-Grilo está estampado nas paredes daquele bar… Fale um pouco a respeito. Você tem alguma ligação com aquele estabelecimento ou os desenhos nas paredes, que trouxeram visibilidade da sua arte para tanta gente, são aleatórios mesmo?
O Bar Simões pertence ao meu pai, Mario Simões, e foi dele a iniciativa de fazer os graffites do Homem-Grilo na fachada do bar, pois ele é grande fã do personagem, acho que é o maior fã. O bar foi fundado pelos meus avós, e em dezembro irá fazer 65 anos. Ou seja, o bar é mais antigo que a própria cidade de Osasco.
Você tem escrito ou pensa em falar em algum quadrinho sobre a pandemia de covid-19?
Quanto à covid, não pensei em fazer nenhum quadrinho a respeito. Na verdade, ela tem de forma indireta atrapalhado a minha produção. Estou em isolamento desde fevereiro, e não tem sido fácil manter a sanidade mental para produzir.
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Em post em comemoração aos 20 anos do seu personagem, você comentou que tem enfrentado o reumatismo. Se quiser, pode falar a respeito, contar como tem sido para produzir os conteúdos e tudo mais…
Sim, eu tenho artrite reumatoide, e por ser uma doença autoimune faz com que eu eu tenha insuficiência de imunidade. Uma gripezinha já me derruba por semanas. Comecei a sentir dores reumáticas em 2013 e comecei a fazer tratamento em 2014.
A doença ficou estável, mas esse ano voltei a ter muitas crises, e por conta do isolamento, não estou conseguindo fazer o acompanhamento como deveria. E parece que atualmente Osasco está sem reumatologista na sua rede do SUS, então quando essa pandemia acabar, provavelmente vou ter que dar um jeito de fazer o tratamento em outra cidade.
A pior parte do reumatismo nem são as dores em si, mas o cansaço e fadiga constante que ele traz. É isso que mais atrapalha a trabalhar, estudar, fazer as tarefas domésticas, etc.
E você tem algum plano em especial, em relação ao seu personagem/ projetos, para quando esse período passar?
Como por questões de saúde eu parei de fazer quadrinhos impressos, pois não tenho mais como distribuí-los nas livrarias e vendê-los nos eventos, vou focar apenas em produzir quadrinhos digitais publicados na Internet em formato de pergaminho, que como te disse, é melhor adaptado pra leitura em celular, pois basta deslizar o dedo pela tela para ler a história.
Por enquanto, apenas o Homem-Grilo e Nova Hélade possuem site. Mas pretendo também criar uma site pras Cosmogonias e Acelera SP. E depois disso, vou criar uma campanha única de financiamento coletivo recorrente pra todas as séries, mas serão todas publicadas gratuitamente.
Jenifer Oliveira