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O discurso da superficialidade

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Por Mailson Ramos Escritor. Publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

A campanha eleitoral, através do discurso dos candidatos, adquiriu uma característica superficial ou de não aprofundamento proposital dos temas de interesse para a sociedade. Esta prática tem recebido a adesão de todos os partidos, candidatos, gestores de campanha e até mesmo tem encantado a mídia.
Em contrapartida, o postulante que deseja aprofundar suas discussões sobre as atuais demandas corre o risco de ser tachado de pedante ou mesmo não atrair a atenção das pessoas.
O vazio do discurso conduz os eleitores a uma batalha fictícia entre os candidatos. A intenção é clara: o embate é tão persuasivo que as discussões sobre os assuntos (saúde, segurança, educação) são marginalizados à importância da guerra entre os partidos ou candidatos. A necessidade de disputa cria uma cortina de fumaça onde os candidatos não são obrigados a apresentar ideias, mas duelar com os olhos voltados ao passado.
Não aprofundar as discussões eleitorais consiste, sobretudo, em desacreditar da capacidade analítica do brasileiro. É achar que se perde tempo quando na verdade o que interessa para o público é a baixaria, o embate, a disputa sem regras. É prometer que é possível acabar com a violência nas ruas das grandes cidades aumentando o número de policiais e não de políticas públicas para crianças e jovens carentes, e do combate efetivo ao tráfico de drogas.
Aliás, as drogas e o tráfico são poucas vezes citados nos discursos dos candidatos ao Congresso e até mesmo pelos candidatos ao poder executivo. Nota-se que os assuntos de maior urgência são esquecidos na campanha e citados, por escrito, nos documentos de programa de governo. Entre acusações que invadem a propaganda do começo ao fim, os candidatos não querem outra coisa senão disputar.