Parafraseando o gigante da música brasileira, Dorival Caymmi, na célebre composição “O Samba da Minha Terra”, quem se levanta contra iniciativas como a implantação de ciclofaixas, ciclovias, faixas exclusivas de ônibus e outras ações que visam a sustentabilidade e priorizam o transporte coletivo, “ou é ruim da cabeça, ou doente do pé”. Só pode ser. A atitude de uma parcela da elite paulista motorizada, que reclama da situação causada pela implantação de ciclofaixas, é sintoma de uma sociedade que há muito se desencontrou dos valores da vida em comunidade, da cidadania, do que é realmente importante e prioridade. Pode-se dizer o mesmo de quem se queixa de trânsito num domingo à tarde, em Osasco ou em Barueri, causado por dez segundos a mais de espera num semáforo nas regiões próximas às ciclofaixas.
Consideram errado poluir menos, preservar a vida
Na sociedade desta gente, que classifica como “imposta” a abertura de uma ciclofaixa, a convivência deve mesmo ser difícil. Uma barbárie. A selvageria da selva de pedra, onde quem tem mais força — ou dinheiro — sempre manda mais.
E então consideram a errado dar oportunidade a quem mudou o estilo de vida para trabalhar ou estudar próximo de casa, para ir de bicicleta e poluir menos, preservar a vida dele e do próximo. Este está atrapalhando. Para esses sujeitos, faz bem o carro! O espaço de estacionamento, a fumaça, o barulho.
Também faz mal o ônibus. Sim, este que leva em seu interior 30 ou 40 automóveis a menos nas ruas. O monstro que transita mais rápido a um custo mais acessível e muito menos agressivo ao meio ambiente que os 30 ou 40 carros que substitui.
De fato, uma sociedade que considera dar valor à grita daquele tipo sedentário, solitário em seu automóvel beberrão de combustível, que nem mesmo carona ao colega dá, não é uma sociedade de bons sujeitos. São todos ruins da cabeça, ou doentes do pé!