Início Cidades Costureiras osasquenses superam obstáculos e lançam coleção com tecidos reaproveitados

Costureiras osasquenses superam obstáculos e lançam coleção com tecidos reaproveitados

0
costureiras coletivo ocupacao osasco
Coletivo Esperança muda perspectivas de mulheres em Osasco / Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

“É surreal ter uma nova profissão depois dos 40 [anos]”. O relato da costureira Mara Lopes é resultado de uma trajetória que envolve organização coletiva e oportunidade de capacitação. As dificuldades impostas pela pandemia uniram mulheres da Ocupação Esperança, em Osasco, na busca por formas de se profissionalizar e melhorar a realidade.

Em 2021, Mara perdeu o emprego de cozinheira e, no mesmo ano, por meio de iniciativa do Movimento Luta Popular, do qual é integrante, ajudou a montar uma oficina de costura no terreno da ocupação. “A costura está sendo bem importante porque, além de aprender uma profissão que eu nunca imaginei que aprenderia, ter uma renda através dessa nova profissão que eu tenho agora é muito bom mesmo”, relata.

“Quando a gente conseguiu montar o espaço, nós conseguimos as máquinas de doações, a gente colocou no grupo da comunidade: a gente está com o nosso projeto, quem quiser aprender a gente está atrás de parceiros para dar o curso. As mulheres interessadas começaram a passar os nomes”, diz.

Uma delas foi Lucilene Amaral da Rocha, 32 anos, mãe de três filhos. Ela só havia trabalhado nos cuidados de casa até o início da pandemia, fez máscaras para complementar a renda da família e acabou encontrando um ofício a partir da iniciativa da oficina coletiva.

Entre as colegas de costura, Lucilene é chamada de professora. “Ela que se destaca na costura, é nela que a gente se auxilia. Ela fala que não, mas ela sabe que sim”, garante Maura, que ressalta a importância da organização coletiva tanto para a construção da oficina, que recebeu doações, como para o aprendizado da costura do grupo, que se beneficia do compartilhamento do conhecimento.

Tecidos, linhas e solidariedade

Assim que surgiu a ideia da oficina, o espaço recebeu doações de máquinas industriais e outros equipamentos do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado de São Paulo, além de doação de pessoas que se identificaram com o projeto, possibilitando a compra de retalhos de tecidos, linhas, agulha e tesouras. No ano seguinte, em 2022, uma parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc Osasco) resultou na oportunidade de capacitação das mulheres pelas empreendedoras do Atelier Mandarins.

“A diferença [em participar da oficina coletiva] é que, em casa, eu não teria a capacidade que eu estou tendo agora. Porque não teria as máquinas melhores, não teria conhecimento delas [colegas] e o conhecimento que professoras passaram para mim. Eu não estaria fazendo o que eu consigo fazer hoje”, conta Lucilene.

Atualmente, ela é responsável pelas contas de casa. Mas a satisfação vai além da conquista financeira. “Descobri uma pessoa que eu não sabia que tinha dentro de mim. Eu estou me sentindo independente, capaz. Antigamente, eu não sabia nem preencher um currículo porque eu nunca trabalhei em lugar nenhum, só cuidando das crianças mesmo. Para mim, hoje, isso aqui está sendo muito importante”, aponta.

Natalia Miranda, do Atelier Mandarins, destaca a prática coletiva da costura deste grupo de mulheres. “Aqui se tornou um lugar de convívio, as mulheres vinham aqui e contavam histórias e elas falavam muito isso, que viram também um lugar para compartilhar coisas da vida. Era um momento do dia em que elas paravam de cuidar da casa e dos filhos, era também o momento de se conectar, de fazer vínculo e ao mesmo tempo de ir aprendendo um ofício,” acentua.

“Elas desenrolaram muito bem, tem uma diferença gritante do ano passado para agora, elas estão muito autônomas. Elas contam que já fizeram roupa para a família, para vender e estão aprendendo, nesta experiência de agora, a dividir: como é que você divide o trabalho para fluir melhor? Passou o período de aprendizado [de costurar] e elas estão se organizando como é que faz uma produção mesmo de costura”, avalia Natalia.

Coleção

Toda essa trajetória motivou um desfile de roupas, realizado no último sábado (15), em evento do Sesc, com o tema Costura Circular. A experiência a que Natália se refere abrange a criação e a produção de uma coleção de peças por um grupo de quatro mulheres da ocupação, nas últimas semanas, junto ao Mandarins, com inspiração em feiras de rua, a convite do Sesc Osasco. A partir de tecidos de reuso, as costureiras se basearam nas cores das frutas para suas criações.

“Elas estão aprendendo a criar uma coleção, como fazer a composição de looks e de combinação de cores. Então, por exemplo, a pitaia tem a parte pink, com a parte de bolinhas que lembra o recheio da fruta. Das frutas, saiu a inspiração para desenvolver a coleção. Todo o material que a gente está usando é de reuso. A gente foi atrás de lojas, de fornecedores, que vendessem sobras de confecção, então também tem a questão da sustentabilidade”, conta Bárbara Gutmann, do Mandarins.

Da Agência Brasil