Em novembro do ano passado, sob o título “Agradar a gregos e troianos”, editorial do Visão Oeste comentava a recém anunciada escolha da presidente Dilma Rousseff para composição da equipe econômica em seu novo mandato. A conclusão lógica era a de que representava as teses defendidas durante a campanha, buscando a austeridade fiscal e a confiança do mercado para recolocar o país no caminho do crescimento.
PT e base aliada têm dificuldade em defender as ideias do próprio governo
Criou-se, obviamente, a expectativa de que o novo governo começaria com ajustes, cortes de gastos, sem perder o foco na geração de emprego, valorização de setores produtivos e combate à corrupção. A surpresa veio com o anúncio de medidas que, em princípio, não encontram guarida nem entre aliados, nem oposicionistas.
A primeira medida anunciada – ampliar a carência do direito ao seguro desemprego – apesar das críticas, não causa grande efeito na vida do trabalhador honesto, que realmente precisa do benefício. Mas carrega uma simbologia muito grande, afinal, “não mexer em direitos e benefícios dos trabalhadores” foi um bordão importante da campanha. Igualmente, a “pátria educadora”, foi objeto de um duro golpe, com o corte de verbas da educação.
A manutenção de impostos que atingem a classe média, sem a discussão da reforma tributária, com desoneração da produção e progressão de impostos para altas rendas, constituiu a cereja do bolo.
Base aliada e o próprio PT estão tendo dificuldade de defender essas ideias no dia-a-dia. E embora se assemelhem a ideias e propostas das correntes políticas associadas à oposição, é natural que esta aproveite para acirrar as críticas e argumentar a existência de uma espécie de estelionato eleitoral.
Ao desagradar a gregos e troianos, é bom que o governo tenha bastante convicção do resultado positivo do caminho perigoso que está trilhando, sob pena de limitar ao extremo sua credibilidade, seu apoio popular e até mesmo o de suas bases partidárias.