O vazamento da informação de que o governo dos Estados Unidos, com ajuda de corporações gigantes da tecnologia, monitora ilegalmente boa parte da comunicação do mundo, é mais um episódio a expor um conjunto de práticas obscuras que aquele país mantém em relação aos demais, aliados ou não.
A suspeita já era antiga. O Parlamento Europeu, ainda no início deste século, já apontou o uso de um sistema conhecido como “Echelon”, que teria grampeado ilegalmente políticos e nomes proeminentes do velho continente.
Não importa o nome do sistema – já foram indicados também Carnivore, Prism, entre outros – o fato é que há uma brutal diferença entre ação de inteligência, com vistas à segurança nacional e à diplomacia, e a política de bisbilhotar vizinhos da qual a nação de Obama está sendo acusada.
No mínimo, fazemos justiça a um sonoro pedido de desculpas do “Tio Sam”
Monitorar movimentos de potenciais terroristas, criminosos procurados e nomes envolvidos em espionagem, com as devidas ordens judiciais e autorização de organismos públicos devidamente fiscalizados, é bem diferente da escuta e triagem, eletrônica ou não, das conversas telefônicas e e-mails dos cidadãos comuns. Trata-se, neste caso, de afronta à privacidade e uma criminosa ação contra a soberania de qualquer nação. Seria ingenuidade acreditar que as informações não poderiam ter beneficiado interesses econômicos dos EUA em detrimento dos negócios e do crescimento das nações alvo.
O mundo passa por grandes transformações e os EUA precisam, urgentemente, se ajustar aos novos tempos, onde novas potências econômicas – incluindo o Brasil – têm cada vez mais importância política e econômica. No mínimo, fazemos justiça a um sonoro pedido de desculpas do “Tio Sam” pela prática, que remete aos tempos da guerra fria. Mas, principalmente, garantias de que tal monitoramento seja definitivamente encerrado.