A doença do deputado José Genoino e a dúvida sobre sua saúde para ficar preso em regime semiaberto ou domiciliar, assim como o alto salário do novo emprego de José Dirceu enquanto estará cumprindo pena em Brasília, ambos do PT, foram os destaques de quase toda a imprensa televisiva na semana.
Ao contrário, o fato de um helicóptero ser flagrado transportando quase 450kg de cocaína numa fazenda no Espirito Santo mereceu apenas uma nota. Detalhe: a aeronave pertence a uma empresa em que um dos donos é o deputado estadual Gustavo Perrella (Solidariedade), de Minas Gerais.
Claro, o episódio tem mesmo que ser tratado com cautela. O flagrante não incluiu o deputado na cena, nem estabeleceu relação. Exceto talvez o fato dele primeiro ter dito que não sabia do uso do seu helicóptero e, depois, ter voltado atrás dizendo que fora informado, mas pensou tratar-se de produto agrícola. Mas convenhamos, era uma tremenda notícia para ser apenas nota de rodapé.
Por que flagrante de 450 kg de cocaína em veículo dos Perrella não teve destaque?
É o tipo de situação que escancara a predisposição de parte da mídia em implicar com alguns políticos mais que outros. Usar dois pesos e duas medidas. O piloto do helicóptero é funcionário de confiança do parlamentar mineiro e tinha um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Sua defesa alega que ele não sabia do conteúdo da carga, embora o delegado da Polícia Federal que acompanha o caso, Leonardo Damasceno, tenha dito que o piloto assumiu saber da origem ilícita do material transportado.
Todos esses elementos compõem uma cena no mínimo pitoresca. Aliás, se algum juiz – além dos ministros do STF – concordasse com a tal “Teoria do Domínio do Fato”, talvez pudesse decretar a prisão do deputado imediatamente. Afinal, segundo essa teoria usada para condenar alguns “mensaleiros”, entre eles o próprio José Genoino, seria impossível o deputado não saber do dinheiro na cueca do assessor… Ou, melhor dizendo, da cocaína no helicóptero do próprio parlamentar.