Início Opinião O dilema da culpa materna: expectativas irreais e o peso invisível da...

O dilema da culpa materna: expectativas irreais e o peso invisível da maternidade

0
colunistas visão sílvia rezende o dilema da culpa materna expectativas irreais e o peso invisível da maternidade
Coluna de Silvia Rezende no Visão Oeste

A maternidade é frequentemente retratada como uma jornada repleta de felicidade, realização e amor incondicional. No entanto, para muitas mães, essa experiência também vem acompanhada de um sentimento complexo e muitas vezes paralisante: a culpa materna. Impulsionada por expectativas sociais e pessoais muitas vezes inalcançáveis, essa culpa se torna uma carga emocional difícil de suportar.

Por que a culpa materna é tão presente na vida das mães? A resposta passa por diversos fatores. A pressão social impõe um ideal de mãe perfeita—sempre atenta, sempre disponível, sempre exemplar. Familiares, amigos e até mesmo as redes sociais reforçam essa imagem, criando um ambiente onde qualquer deslize pode gerar um profundo sentimento de inadequação. Além disso, as próprias mães frequentemente estabelecem padrões irreais para si mesmas, sentindo-se obrigadas a corresponder a uma versão idealizada da maternidade.

Outro fator determinante é a necessidade de conciliar múltiplos papéis. Mães que trabalham fora, estudam ou cuidam de outros familiares enfrentam o desafio de dividir seu tempo e energia entre responsabilidades diversas. A sensação de que nunca estão dando o melhor em todas as áreas da vida pode intensificar a culpa, levando-as a questionar se estão falhando como mães.

A idealização da maternidade também contribui para essa carga emocional. O discurso predominante sugere que ser mãe deve ser uma experiência plenamente gratificante, sem espaço para frustrações, exaustão ou dúvidas. A realidade, no entanto, é que a maternidade é feita de altos e baixos, momentos de alegria e desafios profundos. Sentir-se cansada ou sobrecarregada não significa que uma mãe ame menos seu filho—significa apenas que ela é humana.

Diante desse cenário, como lidar com a culpa materna? O primeiro passo é aceitar que a perfeição é inalcançável e que errar faz parte do processo. Priorizar a saúde mental é essencial, buscando apoio profissional quando necessário. Estabelecer limites, aprender a dizer “não” e reconhecer que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de autocuidado, são atitudes que podem aliviar essa pressão.

Além disso, cultivar a autocompaixão é fundamental. Reconhecer os próprios esforços e valorizar as pequenas conquistas pode ajudar a reduzir a autocobrança excessiva. Conversar com outras mães, compartilhar desafios e frustrações pode trazer conforto e reforçar a ideia de que nenhuma mãe está sozinha nessa jornada.

A culpa materna não precisa ser o centro da experiência da maternidade. Pesquisas revelam que a grande maioria das mães, em algum momento, enfrenta o burnout materno, um estado de exaustão profunda que pode afetar o sono, o humor e a energia. No entanto, com apoio adequado, compreensão e um olhar mais compassivo para si mesmas, as mães podem ressignificar esse sentimento, entendendo que a maternidade real é feita de desafios, mas também de instantes de felicidade genuína. Permitir-se vivê-la de forma mais leve e verdadeira é um passo fundamental para o equilíbrio e bem-estar.

 

Autor

  • Silvia Rezende é graduada em Pedagogia e Psicologia pela PUC-SP, com especialização em Terapia Comportamental Cognitiva (IPq HC FMUSP/USP). É coordenadora técnica da Clínica LARES e professora do IPq HC FMUSP/USP, atuando também como psicóloga colaboradora no IPq e no PROSOL (FMUSP).

    Ver todos os posts
As opiniões expressas nos artigos assinados não refletem necessariamente a posição do Portal Visão Oeste, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es).