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Opinião – Espinosa: sujeito da história

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Espinosa
Foto: Eduardo Metroviche/arquivo/Visão Oeste

Por Antônio Roxo*

Antônio Roberto Espinosa (1946-2018), foi um homem a altura de seu tempo, não se eximindo das lutas que a realidade lhe impôs. Lutou sempre pela organização popular, o intelectual “orgânico” Gramsciano, fruto do povo, praticando a unidade entre ação e pensamento, ser sujeito da história, organizador, ligado à emancipação da classe trabalhadora. Contra a paralisia o “pessimismo da razão e otimismo da vontade”.

Não desprezava a polêmica, entrando nelas de corpo e alma. Lutou contra o regime civil-militar como Comandante da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária e posteriormente da Vanguarda Armada Revolucionária, pagando caro pela resistência à ditadura. Preso foi barbaramente torturado sendo testemunha do assassinato de seu camarada de organização Chael e da destruição psicológica de sua companheira Auxiliadora (devido as sequelas das abjetas torturas a que foi submetida, no exílio se matou).

Cumpriu 4 anos e meio de prisão, e estudante aplicado na Filosofia da USP, utilizou seu tempo para ler, estudar e debater. Ao sair da prisão estava mais instruído e preparado, o que lhe permitiu chegar a diretor da Abril, responsável por diversas publicações, como “Os pensadores”, e posteriormente lançar em Osasco – terra que amava – seu próprio Jornal: Primeira Hora.

Educador, sabia da importância da educação e do papel central do professor. Por acreditar na educação como libertadora não guardou para si o conhecimento, o socializou, seja no jornal, seja em publicações, debates, palestras e reuniões.

Entusiasta da Comissão da Verdade de Osasco – para se conhecer e nunca mais acontecer – em visita a Portugal organizada pelo jornalista Manoel Anta, palestrou na Associação 25 de Abril que reúne os capitães da revolução dos Cravos de 1974 que derrubou o regime ditatorial e colonial vigente no país (aqui o capitão que nos “governa” é defensor da tortura, dos torturadores e da ditadura de 1964, lá lutaram contra a ditadura e a colonização existente). Avaliou, então, como causa não explícita do golpe contra Dilma a criação da Comissão da Verdade, que em alguma medida abriu os porões fétidos do regime e da corporação militar que o garantia.

Setores fascistas ligados ao General Frota, que comandante do exército fora apeado do governo por acobertar torturas e atentados terroristas da extrema direita, viúvas enrustidas da linha dura, não se conformaram, haja vista a defesa que o capitão de cá faz desses tempos e o papel central que o conselheiro de Frota (General Heleno) tem hoje, e declarações golpistas que de vez em quando solta como intimidação, advertência ou preparo?

Espinosa tinha também consciência de seu papel histórico, e não se furtava em atender os reclames dos amigos. Professor da Unifesp/Osasco participou ativamente da greve da Unifieo (2017), mesmo não sendo mais do seu quadro de professores. Lá atrás – 1968 – foi ativo na divulgação, apoio e organização da greve dos metalúrgicos da Cobrasma em Osasco.

Certa feita, contei-lhe que no círculo de debates familiar do qual participava tinha sido confrontado sobre o que seria conservador. E ele “sem se fazer de rogado” disse-me com algum toque de superioridade: – “Procure em Noberto Bobbio, Dicionário de Política, p.242 “ e concluindo: – “ é bom citá-lo pois eles (conservadores) gostam dele”.

Conservadorismo: “designa ideias e atitudes que visam à manutenção do sistema político existente e dos seus modos de funcionamento, apresentando-se como contraparte das forças inovadoras”.

Definitivamente não foi conservador.

*Antônio Roxo é doutor pela USP, professor visitante da Unifesp Osasco (2018-2020), analista da Fundação Seade