
Toda informação sofre alguma distorção ao ser retirada de sua origem e transposta para um novo contexto, e por isso se considera que não é a soma de informações que assegura a ordem orgânica do sistema, mas seu potencial de evitar a perversão produzida pela entropia. Por isso se ensina que evitar anomalias na ordem das informações pode ser mais importante do que coletar dados.
O leitor habituado a abordagens diretas dos assuntos tratados diariamente pela imprensa deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com a análise do jornalismo brasileiro?
Essa questão é respondida de maneira direta e muito mais simples pelo colunista Jânio de Freitas ao analisar o barulho que faz a imprensa brasileira com o fato de que autoridades convocadas a depor na CPI da Petrobras receberam treinamento especial antes de responder as perguntas dos senadores.
O articulista da Folha de S.Paulo observa que perguntas de aliados em comissões de todo tipo são feitas para isso mesmo: para facilitar a vida do depoente e, se possível, neutralizar os ataques dos adversários. Para isso se fazem os ensaios que os profissionais de comunicação chamam de media training – é o mesmo processo pelo qual os assessores de um entrevistado o preparam para tirar proveito das perguntas dos jornalistas.
É claro que esse treinamento é feito com base nas questões que estão em evidência, e que muito provavelmente farão parte dos interrogatórios e debates para o qual se está preparando. Nas entrevistas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por exemplo, é evidente o estilo recomendado por seus assessores, que criaram para ele o papel do administrador que está sendo constantemente surpreendido pelos fatos desagradáveis e prometendo que tudo será “rigorosamente apurado”.
No caso da Petrobras, como constata Janio de Freitas, o media training apenas mostra que os representantes da oposição não investigam nada – “apenas ciscam pedaços de publicações para fazer escândalo”.