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Jovem denuncia espancamento e tortura em quartel de Barueri e fica acamado; Exército abre sindicância

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valdir arsenal
Foto: Arquivo Pessoal

Um soldado de 19 anos, Valdir de Oliveira Franco Filho, denunciou ter sido vítima de agressão física e psicológica dentro do quartel do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo. O caso, ocorrido em março, foi registrado em boletim de ocorrência por maus-tratos e, segundo a defesa do jovem, resultou em sequelas físicas que o deixaram acamado e necessitando de cadeira de rodas. O Comando Militar do Sudeste (CMSE) informou que instaurou uma sindicância para apurar os fatos.

Segundo o relato de Valdir, o estopim para as agressões foi a perda da fivela do cinto, um item fornecido pelo almoxarifado, durante a troca de uniformes no dia 10 de março. Ele conta que, ao informar um tenente sobre a perda, foi submetido a humilhações, com partes da farda sendo jogadas contra ele. Questionado sobre o cinto, explicou que só havia perdido a fivela.

“Ele falou: ‘Eu tenho uma fivela aqui. Quanto custa para você?’. Eu falei: ‘Não sei, senhor’. Ele falou: ‘Então, 10 flexões’”, relatou Valdir. O jovem afirma que, ao se preparar para fazer as flexões no meio do almoxarifado, foi impedido e levado para uma sala escura, sem câmeras ou janelas, dentro da mesma área. “Na hora em que eu me abaixei para fazer as flexões, ele começou a me bater”, disse, detalhando ter recebido chutes enquanto era forçado a fazer o exercício.

Mesmo relatando dores intensas na cabeça após as agressões, Valdir conta que foi obrigado a retornar ao treinamento físico. À noite, alega ter sido trancado em um quarto e, posteriormente, levado para mais atividades físicas. Conforme o boletim de ocorrência, ele foi encaminhado ao Hospital Municipal de Barueri (Sameb) e, após o atendimento, forçado a comer em apenas três minutos.

Ao passar mal novamente, vomitando sangue, retornou ao hospital, onde recebeu recomendação médica de três dias de repouso. Valdir afirma que essa recomendação não foi respeitada pelo quartel. “Ainda estou com fraqueza nas pernas, vômito de sangue e dores na coluna”, ressaltou o soldado. Ele foi posteriormente transferido para o Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP) em 13 de março, onde ficou internado até o dia 21.

O advogado do soldado, Eduardo Lemos Barbosa, classifica a situação como “tortura”. “Meu cliente viveu dias de tortura no alojamento do Exército […]. Sofreu agressões físicas e psicológicas que deixaram sequelas para o resto da vida”, afirmou.

Exército investiga, mas não vê indícios de crime

Em nota, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) confirmou que o soldado apresentou mal-estar em 12 de março, foi atendido no Sameb e depois no HMASP, onde permaneceu internado. O CMSE afirma que Valdir “vem recebendo do Exército Brasileiro a devida assistência médica” e que, ao tomar conhecimento do relato em 17 de abril, instaurou uma sindicância. Contudo, a nota ressalta: “Até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar”.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo confirmou o registro do caso como maus-tratos e o encaminhamento ao 1º Distrito Policial de Barueri para investigação. Outros militares relataram, em grupos de mensagens, a existência de áreas sem câmeras no quartel, o que poderia facilitar episódios de violência. O quartel é o mesmo onde 21 metralhadoras desapareceram em 2023.

 

*Com informações do G1