
O início de 2025 trouxe uma mudança significativa para o ambiente escolar com a implementação da Lei Federal 15.100, que proíbe o uso de celulares nas escolas de todo o Brasil, tanto nas aulas quanto nos intervalos. A medida foi sancionada em janeiro deste ano e visa combater os impactos negativos das telas na saúde mental, no desempenho acadêmico e no aprendizado de crianças e adolescentes.
A decisão foi tomada após a análise de diversos estudos que apontam a relação entre o uso excessivo de tecnologia e problemas como distração, ansiedade, depressão e dificuldades de concentração nas aulas. Segundo o Ministério da Educação (MEC), oito em cada dez estudantes brasileiros de 15 anos afirmam se distrair com o celular durante as aulas, prejudicando seu rendimento acadêmico.
A iniciativa também busca reduzir os efeitos negativos das redes sociais no cotidiano dos jovens, que estão cada vez mais imersos em um ciclo constante de validação e comparação online. Para entender os reais benefícios da nova lei, o Visão Oeste conversou com o psicólogo e pedagogo Neilson dos Santos, pós-graduando em ABA (Análise Comportamental Aplicada) na Faculdade CBI Of Miami.
Neilson explica que o uso excessivo de celulares e redes sociais tem, de fato, um impacto psicológico considerável nos jovens. Ele comenta que, enquanto as redes sociais podem promover conexões e facilitar a comunicação, também trazem sérios efeitos negativos, como a comparação social e o aumento da ansiedade. “A exposição constante a padrões irreais de beleza e sucesso pode gerar baixa autoestima e insatisfação com a própria vida”, diz Neilson.
Ele acredita que a proibição do celular nas escolas pode ajudar a reduzir esses problemas, principalmente porque elimina fontes de pressão social, notícias alarmistas e a constante busca por aprovação. “Sem o celular, eles podem se sentir mais inclinados a interagir uns com os outros, promovendo uma socialização mais genuína e menos superficial”, afirma o psicólogo.
Perda de habilidades sociais e o desenvolvimento emocional
Para o psicólogo, o uso contínuo de aparelhos eletrônicos prejudica as habilidades sociais dos estudantes. “A dependência de celulares reduz a capacidade de interação face a face, afetando o desenvolvimento de habilidades como comunicação, empatia e resolução de conflitos”, diz ele. O psicólogo também alerta que essa dependência pode levar ao isolamento social, já que muitos jovens preferem interagir virtualmente do que fisicamente, o que pode afetar sua saúde emocional.
Ele destaca que a regulação do uso de celulares pode auxiliar não só na melhoria da interação social, mas também no desempenho acadêmico. “Quando os alunos se concentram mais nas aulas e menos nas distrações digitais, há um aumento na produtividade e no aprendizado”, explica.

Além do impacto psicológico, o uso excessivo de celulares também afeta o sono dos jovens. Neilson afirma que a falta de sono adequado prejudica a memória, o aprendizado e o desenvolvimento emocional dos adolescentes. “Os adolescentes que não têm um sono adequado podem apresentar dificuldades de concentração, além de aumentar os níveis de irritabilidade, ansiedade e estresse”, alerta o psicólogo.
Ele também destaca que o uso pedagógico da tecnologia nas escolas deve ser equilibrado. “A tecnologia, quando usada de forma controlada, pode ser uma ferramenta poderosa para o aprendizado. Mas o equilíbrio entre o uso da tecnologia e a convivência offline é essencial para o desenvolvimento saudável dos alunos”, afirma ele.
Resistência e a importância do diálogo
A resistência dos estudantes à proibição do celular nas escolas é uma das maiores dificuldades enfrentadas por educadores e autoridades. “Muitos jovens estão tão acostumados ao uso constante dos celulares que essa mudança pode parecer um desafio para eles”, comenta Neilson. Para lidar com esse comportamento, o psicólogo sugere a importância de um diálogo aberto, onde os alunos possam entender os benefícios dessa medida para seu bem-estar.
Neilson afirma que a explicação sobre os motivos da proibição e os benefícios para a saúde mental e acadêmica podem ajudar os estudantes a entenderem a importância dessa mudança. “Ao envolver os jovens no processo e apresentar alternativas para a comunicação e socialização, como áreas de descanso ou salas de estudo, podemos tornar essa transição mais suave”, conclui.
O papel dos pais e educadores
Neilson reforça que a participação dos pais e professores é crucial nesse processo. Para ele, a conscientização sobre o uso responsável da tecnologia fora da escola é tão importante quanto as mudanças dentro do ambiente escolar. “Os pais devem monitorar o uso da tecnologia, estabelecer limites e incentivar atividades físicas e interações sociais fora do mundo digital”, aconselha.
A nova lei visa promover a saúde mental, o bem-estar e o desenvolvimento acadêmico dos alunos, criando um ambiente mais equilibrado e focado. Embora a proibição do celular possa ser difícil para alguns, ela representa uma oportunidade para reverter os efeitos prejudiciais do uso excessivo da tecnologia e resgatar habilidades sociais e emocionais essenciais para o crescimento saudável dos jovens.