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Randandan: motociclistas podem ter perda auditiva com alterações feitas nas motos

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Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O uso constante de motocicletas para o trabalho, seja para entregas ou transporte de passageiros, tem crescido de forma exponencial nas grandes cidades. Junto com essa demanda, um problema nada silencioso vem afetando um número cada vez maior de trabalhadores: a perda auditiva induzida pelo ruído. A exposição prolongada ao barulho do motor, do vento e da movimentação urbana pode causar danos irreversíveis à audição, gerando complicações para os motociclistas.

O som é medido em decibéis (dB), e a exposição a níveis altos de ruído, especialmente por longos períodos, pode danificar permanentemente as células sensoriais da cóclea, responsável pela audição. Pesquisas revelam que o ruído produzido por motocicletas pode variar entre 80 dB e 100 dB, dependendo do tipo e modelo do veículo, além das condições de uso.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) no Brasil, através da Resolução 272/2000, regulamenta os limites de emissões sonoras para motocicletas, e as medições indicam que motocicletas podem produzir sons na faixa de 80 dB a 100 dB, dependendo do modelo e das modificações no escapamento.

Organizações de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Occupational Safety and Health Administration (OSHA), nos Estados Unidos, também definem limites seguros de exposição ao ruído, e motocicletas costumam ser testadas em estudos que indicam níveis de ruído que podem afetar a audição a longo prazo.

Segundo a OMS, o limite aceitável de exposição diária ao som é de 85 dB por até 8 horas. No entanto, para cada aumento de 3 dB, o tempo de exposição segura é reduzido pela metade. Isso significa que, ao pilotar uma motocicleta que emite som na faixa dos 100 dB, a exposição segura cai para menos de 15 minutos sem causar danos auditivos.

Para trabalhadores de aplicativos de entrega ou mototaxistas, que frequentemente ficam expostos a esses níveis de ruído por horas, o risco de perda auditiva é significativamente maior. Sintomas como zumbido, dificuldade de ouvir sons agudos ou entender conversas em ambientes ruidosos podem ser indicativos de um dano auditivo progressivo.

Por que algumas motocicletas fazem mais barulho que outras?

O nível de ruído de uma motocicleta depende de diversos fatores, como o tamanho e a potência do motor, o tipo de escape, além da manutenção regular. Motos de alta cilindrada e modelos esportivos costumam ser mais barulhentos devido à maior potência do motor, que requer sistemas de escape mais amplos para dissipar os gases rapidamente. Já as motocicletas menores, usadas por muitos profissionais de entrega, tendem a ser menos ruidosas, mas ainda assim podem ultrapassar os limites seguros.

Outro fator importante é a modificação de escapamentos. Muitos motociclistas optam por retirar o silenciador ou instalar escapamentos esportivos, que amplificam o som emitido. Além de aumentar o volume, essa prática pode resultar em multas e até na apreensão do veículo, já que a legislação brasileira estabelece um limite máximo de 99 dB para o ruído emitido pelas motocicletas. As mudanças vão desde a instalação de “estraladores”, escapamentos esportivos ou só o “cano” de metal que emite um barulho ensurdecedor.

Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina indicou que moto-taxistas estão frequentemente expostos a níveis de pressão sonora superiores a 82 dB, excedendo o limite recomendado para uma jornada de trabalho de 12 horas diárias. Dentre os 17 moto-taxistas avaliados, nove apresentaram alterações nos limiares auditivos, demonstrando que o ruído pode, de fato, comprometer a audição de forma progressiva​.

Além disso, uma pesquisa da Fundacentro sobre as condições de trabalho dos entregadores de aplicativo destaca não apenas os riscos físicos, como acidentes, mas também os impactos na saúde auditiva devido ao ruído constante das motocicletas.

 

O limite de decibéis para a audição humana

Conforme mencionado, a OMS estabelece que o nível de 85 dB é o máximo tolerável para uma exposição prolongada. Acima disso, o risco de danos auditivos aumenta drasticamente. Para colocar em perspectiva, uma conversa normal acontece em torno de 60 dB, enquanto um motor de motocicleta em alta rotação pode atingir 100 dB ou mais. Para motocicletas os limites variam de 75 a 80 decibéis. Antes de vender uma moto no Brasil, os fabricantes precisam homologar o modelo junto aos órgãos competentes. Assim, as motos saem de fábrica atendendo a essas normas, portanto fazer alterações que não sejam permitidas pela lei constitui infração de trânsito.

 

Prevenção: como os motociclistas podem proteger sua audição

Para evitar a perda auditiva, especialistas recomendam o uso de protetores auriculares, que podem reduzir significativamente a quantidade de ruído que atinge o ouvido interno. Existem modelos específicos para motociclistas que filtram o som do vento e do motor, sem comprometer a percepção de outros sons importantes, como buzinas e sirenes.

Além disso, manter o sistema de escape da moto dentro dos padrões regulamentados e realizar a manutenção regular do veículo ajuda a minimizar a exposição a níveis de ruído excessivos.