
Leandro Conceição
Em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Osasco na segunda-feira, 10, o empresário Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, um dos dirigentes da Cobrasma na ocasião da histórica greve dos metalúrgicos de 1968, afirmou que a mobilização surpreendeu a direção e negou que a empresa tivesse dado algum tipo de apoio à ditadura militar.
“Nenhum diretor nosso nunca teve relação com nada, nem ligado à repressão, nem à ação”. Ele negou que trabalhadores que participaram da mobilização tenham sido repreendidos pela empresa ou denunciados ao regime.
De acordo com Vidigal, a paralisação surpreendeu por começar sem que antes fosse apresentada uma pauta de reivindicações à Cobrasma. “A gente perguntava quais eram as reivindicações e falavam que apresentariam depois. Eu nunca vi fazerem uma mobilização para apresentar reivindicações depois”, criticou.
A principal reivindicação era 35% de reajuste salarial. No entanto, a mobilização ia além da pauta trabalhista. “Os trabalhadores deram uma demonstração importante de que também estavam interessados nas mudanças que o país necessitava, que passava pela derrubada da ditadura”, lembrou, em 2008, José Ibrahim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos na época, que morreu no ano passado.
A greve de julho de 1968 foi uma das primeiras mobilizações de enfrentamento ao regime militar, iniciado com o golpe de 1964. Após o início na Cobrasma, que tinha na época entre 3.500 e 4.000 funcionários, os trabalhadores de outras fábricas, como Braseixos, Barreto Keller e Lanoflex também pararam. A mobilização foi violentamente reprimida pela ditadura. Dezenas de operários foram presos, torturados e banidos do país.
A favor do regime “no início”
Vidigal participou da Marcha Pela Família com Deus Pela Liberdade, série de manifestações que incentivaram o golpe militar. Ele diz ter sido favorável ao regime “no início, depois desvirtuou”.
Entre os motivos para apoiar a intervenção, lembrou o empresário, “por achar que o país ia caminhar para uma república populista perigosa; o país estava com inflação alta; e o [presidente] João Goulart estava sem condições de governar”.
Sobre os atuais protestos de grupos pedindo intervenção militar no país, ele avalia que são feitos “pelo pessoal que não viveu [na ditadura]. Da minha idade, você não encontra ninguém”.